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Educação Infantil

A Prática Docente na Educação Infantil: a Criança como Protagonista de sua História

Rafaela Calixto – pedagoga | professora regente

“Atuar como professora na educação infantil é abrir portas para um universo de possibilidades infinitas. A sala de aula da primeira infância não é apenas um espaço de aprendizagem, mas um ambiente de encontros, afetos, respeito e cuidado. É um lugar onde cada descoberta — seja de novas sensações, cores, texturas ou sabores — se torna um convite para a criança vivenciar o mundo com seus próprios olhos. Mais do que ensinar, trata-se de permitir que a criança experimente a simplicidade de ser criança, em sua pureza, curiosidade e autenticidade.”

 

Criança pintando o papel com a mão.

Na visão de Reggio Emilia, a criança é entendida como protagonista de sua própria história, um sujeito ativo no processo de aprendizagem. Ela precisa de espaços para explorar, questionar, trocar e interagir. O educador, portanto, não é um mero transmissor de conhecimento, mas um facilitador que acompanha e valoriza o protagonismo infantil, respeitando a singularidade de cada criança. A criança, antes de ser aluno, é um sujeito histórico e cultural, em constante construção de si mesma e do mundo ao seu redor.

Nesse processo, o papel do educador vai além da instrução tradicional; ele deve buscar práticas educativas que sejam emancipadoras, permitindo que a criança se perceba como agente de sua própria aprendizagem. A educação infantil deve ser um espaço onde as múltiplas formas de inteligência sejam reconhecidas e estimuladas, e onde as dificuldades se tornam oportunidades para explorar novas potencialidades. Como propõe Vygotsky, é através da interação social que as crianças se desenvolvem, e o educador é o mediador fundamental nesse processo.

 

crianças explorando objetos

A prática docente na educação infantil, portanto, deve ser construída na troca contínua. A educação é uma via de mão dupla, onde a participação ativa da criança é essencial. Com ela e por ela, a escola se constrói. É com a criança que o saber se reinventa, se transforma, se expande. E, para que isso aconteça de forma plena, o cuidado ocupa um lugar central. O educador tem a responsabilidade de garantir a segurança emocional e física da criança, ao mesmo tempo em que proporciona experiências lúdicas que favoreçam seu desenvolvimento global, especialmente por meio do brincar.

crianças brincando na escolacrianças montando objetos

As propostas pedagógicas devem ser vistas como possibilidades, e não como estruturas rígidas. Elas devem estar abertas à revisão, adaptando-se às necessidades e ao ritmo do grupo. Essa flexibilidade permite que a educação seja verdadeiramente participativa, onde as ideias e os interesses das crianças se tornam um ponto de partida para o planejamento de novas ações.

O autor Larrosa (2002) aborda a temática da educação a partir de uma perspectiva de experiências e sentidos, trazendo reflexões acerca dos contextos em que a educação acontece para com os sujeitos, e a forma com que esses se relacionam com o saber, com o viver e o conhecer. Relacionando as ideias de Larrosa com a prática, é possível adentrar a sala de aula com um olhar reflexivo, crítico e consciente de minhas ações para com as crianças, compreendendo que o desenvolvimento ocorre a partir de suas experiências, do brincar, do contato com o outro e que o meu papel como professora é propiciar uma educação que permita à criança uma experiência no sentido apontado por Larossa.  Afinal, a “experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca”. (LARROSA, J., 2002, p.21).

Assim, a educação infantil é uma aventura constante de descobertas, trocas e transformações, tanto para as crianças quanto para os adultos que as acompanham. Caminhando de mãos dadas com a criança, o educador encontra seu verdadeiro propósito – ser um facilitador da aprendizagem, um cuidador atento, um reflexivo colaborador na construção da identidade e do conhecimento de cada pequeno ser. E é nessa interminável aventura que se traduz no dia a dia da educação infantil: experimentar, testar, descobrir, e se reconectar com seu eu interior, enquanto crianças e adultos.

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