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Desenvolvimento infantil

A importância dos materiais não estruturados no desenvolvimento infantil

Iasmine Mazzi – pedagoga | Luiza Gama – pedagoga

“Pois arte é infância. Arte significa não saber que o mundo já é, e fazer um. Não destruir nada que se encontra, mas simplesmente não achar nada pronto. Nada mais que possibilidades. Nada mais que desejos.”

Rainer Marie Rilke (2007)
 

É Dia das Crianças. Você finalmente entregará o tão esperado presente do(a) seu(a) filho(a), aquele que sempre foi desejado; então você escolhe um papel celofane de sua cor preferida e prepara, com muita dedicação e cuidado, o embrulho para a caixa do brinquedo.

Após o jantar, vocês se reúnem no tapete da sala para o aguardado momento da entrega. O pacote é rapidamente desembrulhado, ao passo que um olhar de surpresa e encanto revela-se em sua expressão. Em questão de segundos a caixa de papelão é aberta, o brinquedo é descoberto e, com muito entusiasmo, seu(a) pequeno(a) inicia suas brincadeiras.

Posteriormente, você observa que, além do brinquedo, outro elemento também chamou a atenção dele(a): a caixa de papelão. Percebendo o envolvimento e interesse em relação a tal material, surge o questionamento: O que há de tão especial em uma caixa de papelão?

Carretéis, argolas, rolos de papel, tecidos, tampinhas de garrafa, gravetos, sementes, pedrinhas, potes, caixas de diferentes tamanhos e outros materiais da mesma natureza são denominados materiais não estruturados, assim chamados pois não apresentam uma funcionalidade restrita ou definida. Diferentemente de uma boneca ou um carrinho, por exemplo, cujas formas e elementos convidam para  interação acerca do cuidado ou da exploração da velocidade, os materiais não estruturados não possuem obviedade, não existindo uma maneira correta ou convite único para seu uso.

Entrar em uma caixa e estar a bordo de um foguete, transformar dois carretéis em binóculos, construir altos castelos ao empilhar potes são alguns exemplos de como a simplicidade e a neutralidade destes materiais oferecem um convite à imaginação.

M.A. chega ao espaço com uma diversidade de materiais não estruturados organizados no chão (foto 1), os observa atentamente, e então coleta dois galhos de árvore e os posiciona, um em cada furo dos carretéis; ao juntar as mãos e cantar “happy birthday to you”, revela que diante dela estavam dois bolos de aniversário, com velas (foto 2). Ao ver a criação de sua amiga como um convite, L. utiliza os mesmos materiais para criar também o seu bolo (foto 3), e o leva até M.A. que, com expressão de entusiasmo ao ver sua ideia reverberar, assopra a vela do bolo feito por sua amiga (foto 4).

Ao adentrar a sala, M. depara-se com um tipo de material não estruturado na mesa (cano). Primeiramente, toca-o para sentir sua textura, temperatura, peso, etc (foto 1). Em seguida, inicia a sua investigação, observando atentamente a parte interna, ao passo que constrói suas hipóteses. Já com outro pedaço do material em mãos, experimenta inseri-lo na parte anteriormente analisada (foto 2 e 3), sempre com o olhar atento. Finaliza sua pesquisa com êxito, atingindo seu objetivo ao conseguir inserir um cano dentro do outro (foto 4).

Um ambiente de desenvolvimento infantil que busca proporcionar experiências potentes de criação entende o quão fundamental é a oferta de propostas que disponibilizam o uso de materiais não estruturados, tendo como foco as maneiras que a criança utiliza tais recursos, de modo não direcionado pelo adulto, e assim, estabelecendo relações e diálogos únicos e subjetivos com os elementos, dando voz às suas criações. Durante as brincadeiras, cabe ao adulto cultivar a escuta sensível, o olhar atento e curioso e uma abertura genuína para dar vez e voz às invenções que surgirão pelo caminho, criando assim um espaço-tempo de autoria e protagonismo infantil.

livro “The man who loved boxes/ O homem que amava caixas”

Fica aqui o nosso convite: que tal a leitura do livro “The man who loved boxes/ O homem que amava caixas” escrito por Stephen Michael King, seguida por um momento de criações com materiais não estruturados? Hope you have fun!

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